Todos os meses possuem cores diferentes. E azul é a cor do novembro em que também temos como foco o diabetes, doença que acomete um em cada dez adultos no Brasil.
Como costumo dizer, nenhum dos avanços médicos e tecnológicos substituirá um estilo de vida saudável. Ao lado do acompanhamento e do tratamento, precisamos fazer nossa parte nos alimentando de forma equilibrada, praticando exercícios físicos, nos informando e nos engajando nos cuidados prescritos pelo profissional de saúde. Só assim conseguimos controlar o diabetes, ganhar qualidade de vida e prevenir danos ao organismo.
Ainda assim, os progressos na medicina e os novos recursos tecnológicos são extremamente bem-vindos para aprimorar e facilitar o tratamento. Nesse sentido, vale a pena conhecer as novidades que chegarão em breve ao país e poderão impactar a rotina de pessoas que lidam diariamente com o diabetes.
Uma delas, prevista para 2024, é o novo sensor de glicose na pele chamado Libre 2, da Abbott, uma alternativa aos dispositivos que dependem de medição na ponta do dedo. O novo device, além de ser menor e com maior acurácia que a versão atual, envia dados continuamente ao smartphone do paciente, evitando a necessidade de escanear com o celular.
Com isso, o smartphone pode avisar ao usuário se a glicose está alta ou baixa demais, inclusive nas noites de sono. Nessa mesma linha de sensores que poupam os dedos das picadinhas, teremos o lançamento do sensor Simplera, da Medtronic, com excelente acurácia e durabilidade de 7 dias. Ele também se se mantém continuamente conectado ao smartphone por meio de um aplicativo com alarmes.
Para aqueles que usam insulina rápida, teremos o lançamento da caneta de insulina inteligente, a smartpen, da Medtronic. O dispositivo, que “conversa” continuamente com um aplicativo de celular, informa ao usuário seu histórico de aplicação de insulina, com a dose do hormônio injetada e os respectivos horários.
Além disso, o aplicativo auxilia no cálculo da quantidade de insulina a ser aplicada conforme a contagem de carboidratos e também informa a carga de insulina que ainda persiste no organismo. A cada minuto, evita que o paciente aplique doses excessivas de insulina enquanto um residual ativo no organismo.
No campo dos medicamentos, um tratamento muito esperado para o ano de 2024 é a injeção subcutânea semanal de tirzepatida, uma molécula com ação semelhante a dois hormônios intestinais (GLP-1 e GIP) que possui uma enorme potência na redução da glicose. Em estudos clínicos conduzidos pela farmacêutica Eli Lilly, cerca de 50% das pessoas com diabetes tipo 2 que utilizaram a tirzepatida apresentaram níveis de hemoglobina glicada parecidos com os de pessoas sem diabetes.
Não é uma cura, claro, mas sim um excelente controle. Além disso, a tirzepatida promove grande perda de peso, redução da pressão arterial e controle das gorduras circulantes. Num estudo recente com pessoas com diabetes tipo 2 já em uso de insulina, a medicação foi capaz de promover suspensão de insulina em boa parte dos pacientes e, em outra parte, uma enorme redução das doses diárias do hormônio.
Outra importante novidade serão os lançamentos de versões genéricas ou biossimilares de medicamentos que marcaram a história do diabetes. Esperamos que, com estes lançamentos, tenhamos mais cidadãos com acesso a medicamentos de ponta que anteriormente tinham preços muito acima do poder de compra do brasileiro.
Um destes produtos é a insulina basal Glargina. A versão biossimilar, com preço mais acessível, será produzida pela farmacêutica Biomm. A substância deve ser aplicada uma vez ao dia e poderá ser utilizada tanto por pessoas com diabetes tipo 1 como diabetes tipo 2.
Outro medicamento genérico a ser lançado para pessoas com diabetes tipo 2 é a linagliptina, que controla o diabetes modulando a produção de insulina e glucagon pelo pâncreas. Trata-se de um dos remédios mais seguros no tratamento do diabetes, com excelente eficácia e baixíssimo risco de efeitos adversos. Até o momento teremos o lançamento programado pelos laboratórios Libbs e EMS.
Nessa linha, vocês se lembram do Victoza, do princípio ativo liraglutida? É um medicamento subcutâneo diário para tratamento do diabetes, originalmente formulado pela Novo Nordisk, que promove excelente controle da glicose, com redução razoável do peso corporal e diminuição de complicações como infarto e derrame cerebral. Teremos uma versão sintética mais acessível, produzida pela EMS, no mercado brasileiro na dosagem específica para pessoas com diabetes tipo 2.
Em suma, estas são apenas algumas das novidades no mundo do diabetes para 2024. Vamos cuidar da saúde para poder usufruir do que virá por aí.
* Carlos Eduardo Barra Couri é endocrinologista, pesquisador da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP e coordenador do Endodebate e do Diarcordis
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