Sequência muito aguardada de um clássico que foi considerado por muitos cult há doze anos atrás, Dragon’s Dogma 2 apresenta definitivamente melhorias em vários aspectos, mas também deixa um sentimento azedo em vários outros.
Não vou mentir que o lançamento está sendo bastante afetado por problemas de desempenho e muitas pessoas chateadas sobre microtransações, por isso vamos discutir ambos detalhes ao longo desta análise.
Dragon’s Dogma 2 é um jogo de RPG em mundo aberto onde assumimos — acredite se quiser — o papel do Escolhido, o ser destemido e destinado a matar o dragão ou morrer tentando, acompanhando de seu grupo de companheiros — conhecidos como peões.
Os tais peões carecem um pouco de protagonismo, podemos dizer, e não são exatamente humanos, sendo um deles o seu peão principal permanente e os restantes mudando ao longo da jornada ao serem contratados por você.
Foi o jeito que eles encontraram para ter uma forma de tornar o jogo mais multiplayer, embora em grande parte do jogo seja para um jogador e você nem precise estar conectado à rede para isso, já que o jogo preencherá com peões genéricos se preciso.
É uma fórmula que também funcionou no primeiro título, mas que melhorou bastante agora sem necessariamente expandir ou criar mecânicas muito diferentes.
“Uma sequência que tem seu brilho, mas que caminha sob a sombra de desempenho vacilante e o peso das microtransações”
Mais um lançamento conturbado…
O estado técnico do jogo, principalmente no PC, ainda é lastimável. Tenho certeza que se você leu um pouco sobre o que os outros jogadores estão falando vai ouvir falar sobre os problemas de desempenho.
Afinal, mesmo que você tenha a configuração mais moderna e disponível atualmente, vai encontrar problemas, principalmente em centros urbanos onde o FPS cai drasticamente e há muitos travamentos.
Aparentemente, isso tem a ver com cada NPC individual que consome mais CPU do que deveria, então há grandes esperanças de que isso seja consertado. O problema também é evidente com inimigos muito grandes, onde os hitboxes parecem bagunçados e deslocados de onde deveriam estar.
Será comum vê-los também travados em algum pedaço do cenário, que poderá ser um glitch utilizado para você finalizá-los sem muitos problemas.
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Sobre a dificuldade, você pode me perguntar, como é? Bem, o jogo tecnicamente não tem seletor de dificuldade. Ele está configurado desse jeito, os inimigos são o que são, mas como um RPG tradicional você vai progredir e subir de nível. Então, em algum ponto sempre dá pra farmar e quebrar a barreira que impedia seu progresso.
Minha primeira história foi concluída com pouco mais de 30 horas por aqui, onde tentei testar de tudo que pude, para fazer o resto no New Game+; que não aumenta os status dos monstros, por exemplo, sendo exatamente o mesmo game com todo seu equipamento prévio adquirido, obviamente tornando a experiência mais fácil, embora assim sobre tempo para você ver várias coisas que não prestou atenção antes.
“A limitação de um só personagem clama por mudança”
Aqui eu tenho uma crítica que é uníssona na internet: a Capcom deixa até o momento que você crie apenas um personagem, o que em termos de replay e vontade de continuar jogando limita bastante. Felizmente, há indícios de que a empresa está ciente do descontentamento e deve tomar alguma atitude.
Mas sim, até o momento você tem um personagem só e está preso a ele, pois o salvamento acontece só neste personagem. Aqui, o título original também funcionava dessa forma, mas pelo menos no New Game+ você podia recomeçar na criação do personagem.
Falando nela, foi uma das grandes ativações de marketing, pois lançaram o criador de personagens separadamente e antes do jogo lançar. Ele é bastante impressionante e você pode replicar basicamente qualquer pessoa, personalizando detalhes numa granularidade invejável para muitos outros estúdios.
Tecnicamente, é possível escolher entre ser humano ou um ren bestial. Agora, a escolha mais importante do ponto de vista de RPG é a sua vocação inicial, na qual você pode escolher entre mago, ladrão, arqueiro e guerreiro. Essa escolha é determinante e significativa para sua experiência.
Isso porque os equipamentos e habilidades mudam bastante para cada vocação. Pensando nas escolhas mais fáceis, eu diria que o arqueiro e o ladrão são mais óbvios, afinal é possível usar a agilidade para evitar mais dano. O guerreiro, por exemplo, vai te colocar em muita briga direta e acho que isso não é fácil pra todo tipo de jogador.
O mago é, definitivamente, a vocação que pode causar mais dano no início, mas ele funciona muito bem como suporte e healer do que dano. Além do seu personagem, você também pode personalizar e criar seu peão principal. É o seu Sancho Pança, o seu fiel escudeiro que trabalha como um companheiro ou assistente, cobrindo várias lacunas do seu personagem.
A tal jornada do herói
Bom, vamos falar da história. Em termos diretos, há um velho e gigante dragão que marca você como o Escolhido. Sua missão? Rastrear–lo e matá-lo ou morrer tentando. Isso automaticamente faz com que as demais personagens abaixem a cabeça para você e façam tudo o que mandar.
O jogo inicia com você na prisão, sendo convocado e não realmente marcado como Escolhido. Mas um pouco depois, descobre que você foi sim marcado pelo dragão, porém o atual governante de Vermund lhe amaldiçoou, o que fez seu personagem perder sua memória para tornar-se um bode expiatório, já que deixa seu filho como um falso Escolhido.
Portanto, ao reaparecer e recuperar memórias, você passa a lidar com isso em toda situação na campanha principal, o que seria um excelente roteiro para levar a algum lugar interessante e fazer algo novo, mas a Capcom infelizmente não o fez. Não há um grande plot twist, tudo é previsível e, você chega ao final e é exatamente seguindo o caminho que estava indo.
“Endereço previsível deixa-nos ansiando por mais”
Se você jogou o primeiro, sabe que há um final verdadeiro. E esse final verdadeiro não teve impacto neste jogo, o que acarreta em que o que foi adicionado ao universo foi pouco explorado. Vou resumir pra você: é medíocre. O sentimento é de uma oportunidade enorme que foi jogada no lixo.
Em Dragon’s Dogma 2, temos dois finais: um ruim e um bom. O verdadeiro final, assim como no jogo original, dá acesso a um epílogo que ajuda você a tentar cumprir alguns objetivos específicos. Mas, ao contrário do resto do jogo, se você morrer aqui precisa começar tudo de volta. A história começa bem, porém não traciona e não empolga.
É um RPG de mundo aberto e aqui tá tudo bem
Sistema de progressão. Veja só, enquanto viajamos pelo mundo lutando contra uma série de monstros, nos deparamos com um progresso bem padrão dos jogos de RPG: níveis, vocações, equipamentos, melhorias, loots acumulados… O pacote completo que você já está acostumado.
Os níveis são bem diretos e quanto mais você aumenta, melhores são os seus stats. A vocação também possui níveis que determinam seu crescimento nestas estatísticas, o que é importante pois mais tarde você pode mudar de vocação livremente e dominar habilidades extras permanentes quando quiser.
Cada vocação determina quais armas e armaduras você pode equipar, mas, primeiro, vamos falar das habilidades. Conforme você progride na vocação, passará por níveis de ranking. Conforme sobe, ganhará acesso a mais habilidades desta vocação particular. E ao matar inimigos, também ganha uma moeda secundária de disciplina que pode ser utilizada para ganhar amentos e habilidades.
Das habilidades disponíveis para sua vocação, você pode equipar até quatro, alternando seu estilo de jogo dentro da vocação. O equipamento aumenta um monte de estatísticas, embora eu diria que a progressão dele é bastante linear, com saltos maiores no final do jogo, quando você obviamente tem acesso a itens melhores.
O último upgrade que você pode dar ao seu equipamento envolve passar por três upgrades, no qual o último é o fogo do dragão, quando você chega ao ponto onde encontra o “forjado pelo dragão”, um NPC específico para atualizar suas camadas em camadas diferentes através de um material especial que é obtido ao enfrentar dragões pelo mundo do jogo.
É padrão, mas sólido e bem resolvido. Então tá tudo bem. Agora pensando na progressão lateral, temos os peões!
Você nunca estará sozinho
Se não jogou o anterior, é fácil de entender: você não se sente solitário. Em toda a aventura, seu herói acompanha seu peão principal e dois peões extras, formando um quarteto. Os dois peões extras podem ser preenchidos pela Capcom se a rede estiver desligada ou com outros jogadores multiplayer, que são sumonados em fendas espalhadas pelo mapa.
Seu peão principal vai subir de nível e ser personalizado por você, enquanto os outros não podem subir de nível. Talvez a mudança mais significativa do jogo, pois eventualmente você terá que trocá-los para testar estratégias ainda não testadas.
O que é mais legal aqui é que os peões podem adquirir especializações e missões, podendo evoluir e serem úteis à medida que aprendem novas habilidades como falar um idioma ou revelar materiais. Sempre que você contratar um peão, ele pode vir com uma missão extra, o que é uma recompensa para que você varie seu esquadrão e queira interagir com mais personagens.
Por isso, dá pra afirmar que os peões estão muito melhores que no primeiro jogo, com um sistema relativamente inovador.
O mundo de Dragon’s Dogma 2
Durante a campanha de marketing, a Capcom gritou aos quatro ventos que o mundo era quatro vezes maior que o primeiro (só que esquece de falar que o primeiro era bem pequeno). Logo, posso falar que o mundo aberto aqui não é tão grande assim, embora maior que o original.
Temos duas grandes áreas: Vermund e B’haal. A primeira é uma área verde, montanhosa e repleta de florestas. Enquanto a segunda é árida e rochosa. É possível explorar e ir onde quiser, embora alguns lugares possuem portões que precisam ser desbloqueados ocasionalmente.
Os NPCs vagam pelo mapa e pode acontecer várias vezes de você ver os mesmos personagens em diferentes lugares do mundo. A locomoção por viagem rápida é uma das grandes melhorias em Dragon’s Dogma 2.
“É grande, mas você já viu maiores”
Antes você coletava Cristais de Portais e soltava em certas partes do mapa para poder viajar até lá com uma Pedra de Fada. Agora, os Cristais de Portais estão em locais específicos e se você interagir pode se locomover sem muitos pedágios.
Uma coisa legal é o ciclo noturno, que particularmente é muito escuro e torna o ambiente mais perigoso e repleto de inimigos, levando a alguns segredos divertidos de serem encontrados. Achei que B’haal, em contrapartida com Vermund, tem inimigos em excesso, com uma densidade descalibrada que eventualmente vai deixar você um pouco irritado se está tentando só caminhar para algum lugar.
Definitivamente não curti muito as missões secundárias, achei elas na maioria das vezes genéricas, no estilo motoboy (leve algo a algum lugar) ou mate um monstro específico ou escolte tal personagem. O triste aqui é que enquanto o jogo evoluiu no sistema de NPC, de morte e nas afinidades dos personagens, a gente não consegue ver o potencial explorado além das missões principais.
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Nada de novo no front
O combate é onde a Capcom realmente não quis botar a colher. Foi onde menos mudou no jogo todo, o que vai fazer você se sentir em casa se jogou Dragon’s ‘s Dogma 1. Aliás, muitas vocações, habilidades e armas são retiradas diretamente de lá. Dá pra falar que até os inimigos, com seus pontos fracos, estão praticamente idênticos.
As lutas são baseadas nos stats, misturando com a árvore de habilidades. Já os inimigos podem ser divididos entre pequenos e gigantes. Os pequenos são de tamanho próximo do jogador, como goblins, zumbis e lagartos; enquanto os grandes são aqueles que você pode escalar, agarrar e acertá-los em diferentes locais para causar o máximo de dano — e eles têm barra de vida realmente grandes.
Tudo isso você já viu no primeiro jogo. E simplesmente funciona bem. É divertido. Porém, a variedade de mobs ainda é pobre e não incrementa, o que a gente sempre espera em se tratando de uma sequência.
As famigeradas microtransações
Sempre polêmicas. Temos pontos para falar aqui. Primeiro de tudo: todas elas são itens que podem ser adquiridos no jogo sem comprar com dinheiro de verdade. Não é pay-to-win, contudo muitos deles são itens ou necessidades que existem só por conveniência . Pelo preço cheio do jogo, chega a ser desconfortável demais considerar sua existência.
“Por que você fez isso
com a gente, Capcom?”
Ou seja, embora eles não sejam necessários para sua experiência, sua existência incentiva o estúdio a criar razões para comprá-las de verdade e isso leva a desenvolver mecânicas que — além de ódio — vão te fazer querer contorná-las de formas criativas (e chatas), por isso não há como ter uma perspectiva positiva sobre.
Por exemplo, você pode editar a aparência do personagem em barbearias, mas isso custa ouro, o que incentiva você a fazer coisas para obter o ouro só para trocar a aparência. Não tem como ser legal.
Vale a pena?
Dragon’s Dogma 2 é divertido, tem ótimos momentos e, como uma sequência, subiu degraus na grande maioria das suas propostas. Em muitos aspectos, está alguns passos à frente do primeiro título. Porém, também é um jogo com problemas de desempenho muito evidentes, sem falar que você precisa ignorar as polêmicas microtransações.
O jogo tem uma história fraquinha, problemas graves de otimização e campanhas secundárias nada envolventes. Não há muitas adições de mobs novos e, por isso, acredito ainda não justificar o preço cheio quando falamos em valores no Brasil — mesmo você sendo um fã ferrenho.
Sendo assim, os momentos negativos ainda ofuscam o brilhantismo do game (que está sim recheado de méritos), por isso eu recomendo que você espere alguns meses e aguarde os updates para comprá-lo em uma promoção, preferencialmente após eles resolvem os problemas mais graves.
Prós
Evolução em vários aspectos em relação ao original
Sistema de peões aprimorado e mais interativo
Criador de personagens detalhado e versátil
Combate divertido e familiar para fãs do original
Contras
Problemas de desempenho graves
História previsível e com poucas inovações
Missões secundárias genéricas e pouco envolventes
Microtransações questionáveis
Limitação de um personagem reduz o fator replay
Dragon’s Dogma 2 foi jogado na versão da Steam para PC.