REVIEW | Rise of the Ronin é desafiador e envolvente, mas destoa nos gráficos – Wg Android

REVIEW | Rise of the Ronin é desafiador e envolvente, mas destoa nos gráficos

Rise of the Ronin
Créditos: Divulgação/Team Ninja

Não se deixe enganar. Os jogos de samurai estão em alta na última década: tivemos Sekiro: Shadows Die Twice vencendo o prêmio de jogo do ano e, mais recentemente, Ghost of Tsushima — que está prestes a receber uma versão para PCs —, como uma referência épica de jogo de mundo aberto dentro desta temática. 

Por um intervalo tão pequeno entre os três lançamentos, portanto, é natural que as comparações surjam, colocando em questionamento qual deles é melhor em diversos quesitos. E sendo Rise of the Ronin e o último a ser lançado, certamente chega mais pressionado a manter elevadas as expectativas dos jogadores após dois triunfos consecutivos.

Uma criação original da Team Ninja (reconhecida pelas franquias Nioh e Ninja Gaiden) exclusiva para o PS5, Rise of the Ronin esteve no forno por nove anos. É bastante tempo de desenvolvimento, o que me fisgou desde o primeiro momento a refletir se eles conseguiriam ultrapassar suas próprias capacidades criativas para construir um RPG de mundo aberto repleto de interações com personagens complexos e detalhados.

Afinal, para um estúdio que sempre priorizou a jogabilidade, é inédito explorar tantas mecânicas que se somam a uma história com personagens profundos e caminhos que se cruzam em uma época tão rica da cultura japonesa e que ainda não foi explorada ao máximo no universo gamer.

Entre espadas e diplomacia

A ambientação de Rise of the Ronin nos coloca na pele de um ronin, um samurai sem mestre, durante o fascinante período do século XIX no Japão. Este é um momento histórico e que, nos video games, ainda não havia tido uma história tão rica assim.. 

Caracterizado pelo fim do autoisolamento japonês graças às chegadas de navios ocidentais, é notavelmente um período de transformações significativas, onde a diplomacia com o exterior aflora com os “Navios Negros” do comodoro Mattew Perry atracando no território nipônico.. Esse contexto histórico serviu como um pano de fundo rico para a narrativa, trazendo avanços tecnológicos, tumultos políticos e uma guerra civil iminente.

“Uma narrativa que respira história e conflito, capturando a essência de uma era tumultuada.”

O jogo te coloca como parte de uma unidade especial do clã Kurosu, onde as missões são fundamentais para os desdobramentos de eventos históricos, incluindo tarefas arrojadas como roubar documentos secretos ou assassinar figuras-chave da época. São mais de 80 personagens que você cruza o caminho e pode criar elos significativos. Durante a minha jornada, interagi várias vezes com pelo menos metade deles.

E o mais interessante é que cada um possuía suas próprias convicções e conflitos. Entre leais e traíras, cada pessoa que passa na trama torna a experiência envolvente. Claro, não dá pra negar que essa vastidão de personagens por muitas vezes diluiu sua presença em momentos críticos da história, uma consequência natural de incorporar tantos indivíduos em eventos significativos.

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Contudo, é de se admirar o quão bem arquitetado foi o roteiro e a narrativa. As escolhas que você faz na história certamente têm peso e conseguem mantê-lo engajado ao enredo, seja por uma questão política ou dramática da época. Não senti a necessidade de pular diálogos, por exemplo, e isso é um bom sinal.

Outro aspecto importante é o sistema de elos, claramente inspirados no jogo Persona 5. Esta mecânica possibilita que você aprofunde relações com os personagens os quais se envolve para influenciar a história e desbloquear novas habilidades, o que por fim acrescenta uma camada extra de profundidade e incentiva a exploração de diferentes áreas do jogo.

Por isso, é possível classificar que em termos de história e ambientação a Team Ninja saiu-se excepcionalmente bem, com uma execução que, embora não original, traz uma escrita de qualidade para criar uma experiência gratificante e imersivas.

As dualidades de um ronin

No gameplay, onde a Team Ninja consolidou a sua reputação, as coisas ficam mais cinzentas. Tive uma leve mistura de sentimentos aqui, variando entre grande satisfação e desapontamentos. Afinal, o estúdio sempre trabalhou com mecânicas de luta extremamente desafiadoras e profundas, e que em Rise of the Ronin sobem alguns degraus ambiciosos para criar um mundo aberto recheado de possibilidades.

Vou começar pela exploração e o  sistema de elos. De muitas maneiras, esse esforço se traduziu em uma exploração sólida e um sistema de elos intrigante, com uma variedade de conteúdo fresco e diverso. 

Imagem: Divulgalção/Team Ninja

A exploração do mundo de Rise of the Ronin se passa em Yokohama e outras duas grandes cidades do Japão, abrangendo 27 km², sem contar o campo. Isso significa que estamos falando de um território que supera facilmente Ghost of Tsushima. Aqui, o estúdio ofereceu um planador, um cavalo e um sistema de viagem rápida para que você não sofra com longas caminhadas.

Há até um sistema de autoexecução, embora algumas áreas parecessem um pouco vazias e os NPCs limitados em sua interação. O que realmente é necessário para dar acesso rápido a uma grande variedade de conteúdo paralelo, onde cada zona do território traz missões como coletar gatos para senhoras, enfrentar fugitivos, visitar templos e mandar bandidos a sete palmos do chão para restaurar a ordem.

“A Ascensão Ronin’ revela as complexidades de um mundo onde honra e habilidade se encontram em constante duelo.”

Esse conteúdo, incluindo a possibilidade de tirar fotos de locais históricos japoneses para aprender sobre eles, é realmente interessante. Falando nisso, há um sistema que recompensa você por comportamentos antiéticos, como roubar ou matar civis, embora seja raso..

E então temos os elos, uma mecânica no qual você pode subir o nível de laços em relações com outros personagens que aparecem durante a história. Aumentar esses laços através de diálogos, presentes e missões especiais mantém você mais conectado ao mundo. É coeso. É coerente.

Combatendo tradições: o desafio além de Nioh

E o gameplay? Bem, foi onde minhas expectativas eram maiores e não foram totalmente atendidas, embora a Team Ninja nitidamente tem um dos melhores combates de toda a indústria. Não me leve a mal, não estou dizendo que o jogo é ruim nesse critério. Bem longe disso, ele é magnífico! Mas claramente não consegue reproduzir com perfeição o fluxo amado dos títulos anteriores, com os dois Nioh.

Entre as mecânicas básicas, temos ataques normais, pesados, defesa e um medidor de ki que representa a stamina. A novidade é o contra-ataque, um sistema semelhante ao parry dos jogos da From Software que era promissor no papel, porém que está muito punitivo e desafiador de maneiras frustrantes. Ele é tão difícil de dominar que eventualmente você vai desistir de usá-lo em muitas batalhas, o que me fez não dar a nota máxima.

“Entre a lâmina e o destino, o combate desafia tanto o corpo  quanto a mente.”

Além disso, o jogo tem como premissa a troca de personagens durante o combate: um recurso bem executado para confundir inimigos e abrir oportunidades para ataques e o uso de diferentes armas e técnicas de luta. A diversidade de armas e posturas de luta acrescentam uma amplitude estratégica que força você a testar várias possibilidades para maximizar danos e dar golpes eficientes.

Já em termos de inimigos, temos uma limitação maior. Como o jogo tem uma pegada realista na humanização, enfrentamos humanos e animais muito semelhantes durante a jornada. Se são visualmente parecidos, pelo menos, cada um deles traz um conjunto de movimentos bem plurais. 

É claro que o jogo quebra algumas barreiras criativas e você certamente vai se divertir usando um lança-chamas em uma época que certamente ainda não havia sido inventado. Porém, vejo com bons olhos, afinal estamos falando de video games.

Já sobre a dificuldade, ela está mais balanceada e você pode sempre variar entre três níveis se sentir que há necessidade de mudança. Não achei tão punitivo quanto Nioh, por exemplo, mas como o jogo tem uma vertente souls-like certamente há graus de dificuldade que oscilam durante a jogatina.

Rise of the Ronin
Divulgação/Team Ninja

O sistema de progressão permite personalizar o ronin de várias maneiras, desde equipamentos até habilidades específicas. Cada item equipável vem com estatísticas secundárias, e peças raras podem oferecer bônus de conjunto, proporcionando efeitos especiais. 

A progressão também é afetada por um sistema de experiência e karma, onde derrotar inimigos e completar missões concede XP para subir de nível, melhorando atributos como saúde, força e defesa. O karma, reminiscente de mecânicas  da From Software, oferece pontos de habilidade ao ser maximizado e pode ser perdido ao ser derrotado, adicionando um elemento de risco à exploração e combate.

Embora a análise aqui se concentre fortemente na experiência solo de Rise of the Ronin, o jogo oferece funcionalidades multiplayer que permitem aos jogadores juntarem-se em missões em até quatro pessoas. Essa dimensão cooperativa promete estender a longevidade do jogo.

Um único aspecto negativo durante a progressão que me irritou um pouco só foi o fato de ter que passar muito tempo limpando o inventário de loots que não valiam a pena conforme progredia, o que dá uma sensação do jogo estar levemente inflado, entretanto compreensível para um estúdio que segue este caminho pela primeira vez.

A montanha intransponível dos desafios gráficos

Durante minha jogatina, observei que o jogo apresentava momentos de queda de framerate, especialmente em áreas mais movimentadas e densas, como algumas partes de Yokohama.

Imagem: Divulgação/Team Ninja

Essas quedas eram mais notáveis em momentos de alta demanda gráfica, com muitos NPCs e elementos detalhados em cena, fazendo a taxa de quadros cair de uma experiência suave de 60fps para cerca de 30-40fps, mesmo enquanto priorizava o modo de desempenho no PS5. 

A quantidade de pop-ins para um jogo desta geração também me impressionou negativamente, com vários elementos sendo carregados atrasados que incomodam e saltam aos olhos. Contudo, fora dessas áreas específicas, o jogo mantém uma performance relativamente estável, oferecendo uma navegação e exploração fluidas na maior parte do tempo.

“As falhas gráficas são como rochas no caminho, prejudicando a experiência”

É bem fácil  dizer que Rise of the Ronin não alcança o mesmo nível de fidelidade visual que alguns dos títulos de mundo aberto contemporâneos. O jogo adota uma paleta de cores que, em quase todos os lugares, parece lavada, com muitos ambientes exibindo tons cinzentos e uma falta de contraste.

Essa escolha estética pode afetar a imersão, principalmente quando comparada a jogos conhecidos por suas paisagens deslumbrantes e saturação rica de cores, como Ghost of Tsushima.

As animações faciais ficaram devendo muito também. Elas sempre tendem a ser rígidas, com movimentos da boca e linguagem corporal tentando transmitir emoções sem o sucesso desejado. Os olhos dos personagens raramente se movem de maneira convincente, o que reduz a conexão emocional com eles durante as interações.

Essa limitação técnica destoa de outros aspectos do jogo, que são mais excelentes, e pode diminuir a sensação de estar verdadeiramente envolvido, criando esse sentimento ambíguo, embora seja importante reconhecer os esforços do estúdio em criar um mundo aberto rico e detalhado.

Os problemas técnicos estão presentes e são facilmente reconhecidos, dando a entender que o motor gráfico adotado está ultrapassado, porém não chegam a ferir a fruição do jogo como um todo. Entretanto, é importante destacar que quem é mais sensível à fidelidade técnica certamente colocará o jogo na gaveta dos jogos feios e pouco lapidados.

Ainda assim, melhorias visuais e upgrades gráficos em futuras atualizações ou sequências podem elevar significativamente a qualidade geral da nova franquia.

Rise of the Ronin
Imagem: Divulgação/Team Ninja

A promessa do mundo vasto se cumpre?

Colocando em cheque a quantidade e a qualidade do conteúdo oferecido, incluindo a extensão do mundo aberto, a profundidade da história e dos sistemas de jogo, além da mecânica de luta e exploração, considero que Rise of the Ronin justifica seu preço.

Minha experiência ao longo de aproximadamente 40 horas revelou apenas uma fração do conteúdo total disponível, com uma taxa de conclusão que mal arranha a superfície do que tem a oferecer.

Nas primeiras cinco horas, eu até me irritei com a quantidade de tutoriais e novas mecânicas que surgiam aos montes que eu não conseguia absorver e dominar, mas preciso confessar que pelo preço que pagamos nós queremos jogos cada vez mais longevos e a proposta é esta.

Isso sugere que completar todas as missões, desbloquear todas as habilidades e explorar cada canto do jogo pode facilmente dobrar esse tempo de jogo, oferecendo uma quantidade substancial de entretenimento pelo investimento.

Em relação ao replay, Rise of the Ronin alcança várias conquistas. Primeiramente, o sistema de elos e as escolhas significativas ao longo da narrativa incentivam os jogadores a experimentar diferentes percursos na história, explorando como alternativas nas decisões podem alterar o desenrolar dos eventos e os desfechos para os personagens e o mundo ao seu redor.

Além disso, a possibilidade de explorar estratégias diferentes no combate e experimentar com diversas combinações de armas e habilidades oferece uma nova dimensão para a jogabilidade em partidas subsequentes.

E o componente multiplayer também introduz novas dinâmicas de jogo que podem ser exploradas de maneiras diferentes em cada playthrough.

Diretor de Rise of the Ronin quer superar novos obstáculos
Imagem: Divulgação/Team Ninja

Conclusão: Rise of the Ronin vale a pena?

Rise of the Ronin é, sem dúvida, um jogo que vale a pena colocar na sua lista de desejos. Ele oferece uma combinação rara de narrativa histórica profunda, gameplay sólido e uma janela para uma era fascinante da história do Japão, tudo embrulhado em uma apresentação que, embora possa ter suas falhas, ainda consegue cativar e envolver. 

Para fãs de RPGs de ação, história japonesa, ou aqueles simplesmente em busca de uma nova e rica experiência de mundo aberto, Rise of the Ronin promete horas de imersão e descoberta. Apesar da qualidade gráfica e as quedas de desempenho em áreas densas possam ser pontos de preocupação,, e o gameplay não atinja o pico de excelência de outros títulos da Team Ninja, em nada não diminuem a magnitude do título. Ele ainda é muito acima da média comparado a outros jogos do gênero.

Uma versão mais enxuta para não repetir algumas dinâmicas e mais polida graficamente realmente poderia ter colocado ele na prateleira de obras-primas, porém o esforço para construir este mundo aberto pavimenta o caminho para que eventuais sequências consigam sanar estes obstáculos.

Em suma, mesmo com todos os problemas citados e o fato de não estar no mesmo degrau que os jogos de samurai mais recentes, Rise of the Ronin ainda  consegue ser uma aventura memorável, tornando-se um título relevante para a geração atual.

Prós

Narrativa rica e envolvente, com ambientação histórica profunda

Interações significativas através de um sistema de elos

Quantidade substancial de mecânicas e conteúdos

Inimigos agressivos e desafiadores, com combates estimulantes

Sistema de combate satisfatórico, com várias armas e estilos de luta

Árvore de evolução interessante, com habilidades ligadas a atributos primários

Missões co-op e solo diversificadas

Possibilidade de revisitar missões e fazer escolhas diferentes, o que aumenta o fator replay

Contras

Animações gráficas rígidas e ultrapassadas

Problemas técnicos de queda de frames e pop-ins constantes

Sobrecarregado visualmente pelo excesso de conteúdo, como mapas repletos de ícones

Quantidade exagerada de saques com upgrades incrementais insignificantes

Muito tempo perdido limpando o inventário de loots, com uma quantidade enorme de itens que não valem a pena

Rise of the Ronin, na versão para PlayStation 5, foi gentilmente cedido pela Sony para realização desta análise.

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